Por: Darshan Rigamonti
A retórica política, por vezes, atinge patamares que beiram o inacreditável, e uma recente declaração do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante um evento da transposição do Rio São Francisco, não apenas chocou pela grandiloquência, mas ofendeu a inteligência e a fé de milhões de brasileiros. A afirmação de que “Deus deixou o sertão sem água porque sabia que eu ia ser presidente da República e ia trazer água para cá” não é apenas uma gafe, mas um sintoma perigoso de um personalismo que busca apagar a história e manipular a crença popular.
No cenário político brasileiro, onde a seriedade da gestão pública deveria ser a tônica, o que se vê, por vezes, são delírios de grandeza. A declaração do Presidente Lula em evento crucial sobre a transposição do São Francisco é um exemplo gritante: “Deus deixou o sertão sem água porque sabia que eu ia ser presidente da República e ia trazer água para cá”. Tal afirmação não é meramente um deslize; ela revela uma mentalidade que busca divinizar a figura do líder, colocando-o como o único portador de uma “solução” aguardada por desígnios divinos.
Essa fala, que muitos classificaram como “megalomania” e “mistura máxima de egolatria e sacrilégio”, é um desrespeito flagrante não apenas à inteligência do povo brasileiro, mas também à própria fé. Atribuir a Deus a espera por um único indivíduo para a realização de uma obra complexa e multissecular como a transposição é um ato de soberba sem precedentes. Desconsidera-se a luta de gerações de sertanejos, o trabalho incansável de engenheiros, técnicos e políticos de diferentes espectros que, ao longo de décadas, contribuíram para o projeto. Ignora-se, ainda, que a obra teve fases importantes em governos anteriores, inclusive com avanços significativos.
A tentativa de cooptar a fé para fins políticos e eleitorais é um expediente perigoso e inaceitável. Ao invés de exaltar o esforço coletivo e a capacidade do Estado, a declaração presidencial tenta criar um messianismo artificial, onde a solução para um problema crucial como a seca no sertão é personificada em um único “salvador”. Essa postura populista, que beira o deboche, subestima a capacidade de análise do eleitorado e desvia o foco do que realmente importa: gestão eficiente, responsabilidade fiscal e políticas de Estado que garantam o bem-estar da população, independentemente de quem esteja no poder.
Para os cidadãos de Palmas, especialmente nas regiões Sul e em Taquaralto, que anseiam por boa gestão, transparência e efetividade nos serviços públicos, essa retórica deveria ser um sinal de alerta. O desenvolvimento de nossa cidade, o avanço da infraestrutura e a melhoria da qualidade de vida não podem ser dependentes de discursos vazios ou de promessas divinas. Exigem-se líderes que pautem sua atuação pela seriedade, pelo respeito às instituições e pela valorização do trabalho técnico e contínuo, sem a necessidade de autopromoção às custas da fé e da história de um povo.
É imperativo que a sociedade brasileira e, em particular, a comunidade de Palmas, rejeite discursos que tentam transformar o papel de um presidente da República em algo sobrenatural. A verdadeira “água” que o povo necessita é a da honestidade, da competência e da dedicação real à administração pública, livre de delírios de grandeza e de manipulações da fé.