Brasília, DF e Palmas, TO – Há pouco mais de um ano, em meados de 2024, a Câmara dos Deputados foi palco de intensos debates com o protocolo de novos pedidos de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, um dos principais catalisadores para essas movimentações foi o chamado “escândalo do INSS”, que gerou forte reação parlamentar. No entanto, a iniciativa, longe de unificar, aprofundou uma divisão estratégica já latente entre os próprios opositores ao governo, especialmente com as eleições de 2026 no horizonte da época.
A discussão central na oposição não é apenas sobre a validade das acusações, mas sobre as consequências políticas de um eventual afastamento. Enquanto uma ala expressiva da base bolsonarista defendia o impeachment imediato, citando o desgaste que o “escândalo do INSS” e outras questões impunham ao governo, outra vertente, mais pragmática, questionava a eficácia da medida.
Alguns deputados do campo conservador avaliavam que a melhor estratégia seria “desgastar” o governo Lula até as eleições presidenciais de 2026, em vez de arriscar um processo de impeachment. O receio é que, com a demora inerente a tal processo, um eventual afastamento de Lula leve o então vice, Geraldo Alckmin (PSB), a assumir a Presidência às vésperas da corrida eleitoral, o que, na visão de alguns, não representaria uma mudança substancial. Sostenes Cavalcante, líder do PL na Câmara à época, chegou a afirmar que substituir Lula por Alckmin seria “mais do mesmo”, posicionando-se contra a instauração do processo naquele momento. Esse entendimento, segundo bastidores da política, era compartilhado pela família Bolsonaro, que parecia focar mais em pautas como a anistia.
Por outro lado, figuras proeminentes da oposição defendem veementemente a interrupção do mandato. O então líder da Oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL), manifestava-se favorável. Deputados como Nikolas Ferreira (PL), Marcel Van Hattem (Novo) e Carla Zambelli (PL) também engrossavam o coro pelo impeachment. “O problema de esperar o governo sangrar até a eleição de 2026 é que, até lá, a população também sangra”, argumentava Nikolas Ferreira na ocasião.
Vale lembrar que foi protocolado na Câmara o que seria o terceiro pedido de impeachment de Lula relacionado ao escândalo do INSS, assinado por Guto Zacarias (União Brasil), então deputado estadual de São Paulo. Anteriormente, o deputado federal Evair Vieira de Melo (PP) e o distrital Pastor Daniel (PP) também haviam protocolado pedidos com o mesmo teor.
O cenário político nacional continua dinâmico, e as reverberações desse episódio são sentidas. Mas como essa complexa discussão, com suas nuances estratégicas e disputas internas na oposição, foi percebida aqui na região Sul de Palmas e em Taquaralto?
O Jornal Palmas Sul foi ouvir a comunidade. “A gente acompanha pela televisão, né? Fica aquela briga lá em cima, um querendo uma coisa, outro querendo outra. Enquanto isso, a gente aqui embaixo só esperando pra ver no que vai dar e se as coisas melhoram pra gente,” comenta Dona Maria Silva, moradora do Aureny III.
Já para João Carlos, pequeno comerciante em Taquaralto, a instabilidade política em Brasília sempre gera apreensão. “Quando começa essa conversa de impeachment, nomes de políticos brigando, a gente já fica com o pé atrás. Não importa de que lado você está, isso nunca é bom para a economia, para a confiança. A gente quer é trabalho, segurança e que as coisas melhorem aqui no bairro”, desabafa.
A divisão na oposição, com argumentos sobre o “timing” eleitoral e o impacto de quem assumiria, também é um ponto de reflexão para os eleitores locais. “Eu acho que a oposição tem que ser firme, mas também tem que ser inteligente. Se ficam só brigando entre eles por quem aparece mais ou qual a melhor estratégia pra eles lá, quem ganha é o governo. Precisam mostrar propostas claras para o país e para a nossa cidade também,” opina Ricardo Mendes, estudante universitário residente no Jardim Taquari.
Especialistas apontam que a fragmentação da oposição pode dificultar a construção de alternativas políticas consistentes. Enquanto isso, a população, como a da região Sul de Palmas, segue atenta, buscando entender os impactos dessas movimentações no seu dia a dia.
Curiosidade e Processo: Você sabia que o regimento da Câmara dos Deputados estabelece que qualquer cidadão pode apresentar um pedido de afastamento do presidente da República por crime de responsabilidade? Cabe ao presidente da Câmara examinar essas representações e decidir se pauta ou não a votação que pode levar à abertura do processo. Para que um processo de impeachment seja aberto, é necessário o apoio de 342 deputados. Se aprovado na Câmara, compete então ao Senado Federal processar e julgar o presidente.