Não se fala em outra coisa em Palmas. Enquanto a cidade ainda digere a crise política de junho, um enigmático vídeo de uma “profecia” sobre o prefeito em exercício, Pastor Velozo, tornou-se o epicentro de todas as discussões.
Palmas, TO – Um vídeo. Nos últimos dias, é o que basta para iniciar ou dominar qualquer conversa em Palmas. Não se trata de um novo escândalo político ou de um anúncio administrativo, mas de um fenômeno que tomou conta dos celulares: um registro antigo de uma “profecia” sobre o prefeito em exercício, o pastor Carlos Eduardo Velozo, que explodiu na internet e redefiniu o debate público na capital.
O fenômeno surge em um terreno fértil. A cidade ainda processa o terremoto político do final de junho, que culminou no afastamento do prefeito Eduardo Siqueira Campos. Em seu lugar, assumiu o vice, Pastor Velozo. E é justamente sobre ele o conteúdo do vídeo que se espalhou como fogo em pasto seco. Na gravação, feita em um culto religioso, uma mulher afirma que Deus entregaria a “chave desta cidade” nas mãos de Velozo.
A viralização massiva transformou uma crise de poder, já conhecida, em um debate fervoroso sobre fé e destino. Nas redes sociais e rodas de conversa, a cidade se divide. De um lado, apoiadores veem no vídeo a confirmação de um propósito divino. Do outro, céticos apontam para o uso oportunista da fé como uma sofisticada estratégia de marketing político para legitimar o novo gestor.
O Poder da Narrativa em Tempos de Crise
Mais do que a veracidade da profecia, o que o episódio revela é o poder de uma narrativa em tempos de incerteza. A discussão sobre os rumos da prefeitura, antes restrita aos trâmites legais e às análises políticas, foi invadida por um elemento místico que fala diretamente a uma parcela da população.
Isso levanta questões cruciais: a responsabilidade de um governante deve ser medida por sua gestão e resultados ou por um suposto aval divino? Como o cidadão pode e deve fiscalizar o poder quando a política é apresentada como parte de um plano espiritual?
Na Zona Sul, o Debate é Outro
Enquanto o debate virtual ferve, para o morador de Taquaralto, do Aureny ou do Taquari, a “chave” precisa abrir portas bem mais concretas. A expectativa é que ela destranque o asfalto prometido, a melhoria no transporte público e a eficiência nos serviços de saúde.
Independentemente das interpretações do vídeo, o fato é que a gestão pública continua sendo uma responsabilidade terrena, que exige planejamento, transparência e, acima de tudo, prestação de contas. A vigilância dos cidadãos sobre os atos do poder Executivo, seja ele guiado pela política ou pela fé, continua sendo a ferramenta mais sagrada da democracia.